terça-feira, 3 de abril de 2012

Antes era assim, agora é assado.

Nestes conectores brancos que ligam meus tímpanos ao MAC toca neste momento Muerte de Amor (Tristán e Isolda) do Wagner e é uma das coisas mais lindas que você pode ouvir na vida. A gravação que ouço é a de um concerto a céu aberto na Praça de São Marcos em Veneza. É uma ordem: OUÇA ANTES DE MORRER!
Cresci jogando torneios de xadrez. Desde os 11 anos passava os finais de semanas em viagens curtas com pessoas de todo o Brasil que se encontravam em nome de uma causa comum seja para competir, seja para encontrar os amigos, seja para “apreciar a arte”, estavam lá pelo xadrez.
Eram sempre as mesmas pessoas. Em comum, tinham somente aquele esporte. Como em um Big Brother, elas iam se agrupando entre os populares, os admirados, os losers, os bêbados, os engraçados... Não raro você era loser em um dia e admirado no outro, bêbado e engraçado à noite e sério de dia.
Eram relações que, em sua maioria, terminavam em um torneio e voltavam no próximo exatamente do mesmo ponto que haviam parado. Parecia que a vida toda que acontecia “lá fora” não tinha a menor importância. Eu podia contar um caso a um amigo enxadrista e, meses depois, no próximo encontro, ele me perguntava sobre o caso.
……Listen Baby...
Ain't no mountain high
Ain't no valley low
Ain't no river wide enough baby

Faz uns meses conheci uma discípula de Amy Winehouse. Seu nome é Dionne Bromfield. Vale ouvir, tá rolando na minha cachola, ela cantando no seu álbum de clássicos a famosa Ain't No Mountain High Enough... 
Desde que comecei a trabalhar com esse negócio de internet não sou daquelas que vai em todos os eventos do ramo mas sempre apareço em um ou outro seja por vontade de ver o que rola, para acompanhar um cliente ou, mais recentemente, para acompanhar o namorado em suas palestras.
Na sexta passada juntei ver o que rola e acompanhar meu super boy e parti para o Desencontro em Fortaleza, a cidade da brisa constante.
Quando cheguei, achei o desencontrado mais encontrado que se pode imaginar. A maior parte das @ que preenche a minha e a sua timeline estava lá. São pessoas que de tempo em tempo, de torneio evento em evento se encontram em torno de uma causa comum, as mídias sociais. São professores, cantores, humoristas, jornalistas, publicitários, nerds, e até um ex- Big Brother que a rede aproximou. Assim como em um torneio de xadrez, elas passam o final  de semana competindo, encontrando amigos, ou “apreciando a arte da internet”.
              Ação da Prefeitura de Fortaleza - foto instantânea dos encontros no Desencontro
Porém, ao contrário de um torneio de xadrez eu não passo de grupo em grupo continuando conversas que foram paradas no evento anterior. Eu acompanho a “vida” dessas pessoas em tempo real todos os dias por meio do Twitter ou do Facebook. A maioria nem é meu amigo, mais eu sei de seus relacionamentos, dos seus últimos restaurantes preferidos, de suas últimas viagens, do nome da sua nova cachorrinha. Eu sei de seus causos e não preciso esperar o próximo evento para saber da continuação.
A minha, e provavelmente a sua vida, agora, é preenchida por estranhos íntimos.
Por virtude, por sorte, algumas vezes estes estranhos viram “amigos”. Foi isso que eu mais vi lá no Desencontro. Estranhos íntimos que em três dias pareciam se conhecer desde o berçário e que, com o fim do encontro, não mais se desencontraram. Domingo cada qual foi para trás de sua @ e continuou a conversa mesmo de longe, continuou na segunda agradecendo por tantos novos encontros e novas amizades, continuou na terça comentando a notícia da hora, vai continuar amanhã e até o próximo evento.